A gente se conforma

    Não deveria, mas a gente se acomoda com tantas coisas que o mundo e a sociedade nos ensinam. Há tanta ideologia nos impulsionando, e muitos de nós não questionamos, apenas aceitamos e seguimos a maré...
   A gente se conforma com uma única visão de religião. E nós nem tentamos buscar algo diferente, outras filosofias ou, pelo menos, apenas conhecer antes de julgar. 
   A gente se conforma com o noticiário da TV que só mostra desgraças, aceitando que ver gente morta e catástrofes é um divertido entretenimento, afinal, dá-se audiência com isso. E nós nos esquecemos do lado positivo que a vida pode nos oferecer. Apegamo-nos à ideia de catarse e pensamos merecer o sofrimento para pagar uma dívida com o mundo, com os céus... 
   A gente se conforma em ver homossexuais sendo espancados. E nós acreditamos que lhes é merecido por serem diferentes e aceitamos a ideia que sexualidade é opção.
   A gente se conforma de que um verdadeiro ídolo é um atleta qualquer, um maluco que cria gírias na TV ou na internet, um político sem ética que excita o ódio e cospe preconceitos. E nós nos esquecemos das grandes personalidades que revolucionaram o mundo com ensinamentos e descobertas.
    A gente se conforma em parecer sempre feliz nas redes sociais. Como se todos estivessem bem o tempo todo. A felicidade se tornou obrigatória. E vivemos o virtual júbilo, pregando sorrisos amarelos, quando que, na realidade, a vida nem sempre nos mostra os dentes. Passamos nosso efêmero percurso aqui ostentando a tal felicidade. Talvez para que os inimigos vivam mais para ver uma suposta glória, e caímos na mediocridade do beijinho no ombro, que é um sinal de que alguém deveria nos invejar porque estamos jubilosos e deveras dignos dessa inveja. É uma disputa para quem se mostra melhor, às vezes, somente na foto.
   A gente se conforma com a ideia de que os negros deveriam sempre estar nas classes inferiores. E nós nem questionamos que se a África fosse um continente rico, talvez nunca tivesse sua população escravizada, visto que, talvez, a escravidão e tudo que ocorreu com os negros tenha sido uma questão social e econômica, e nem tanto pela cor da pele, porém, este estigma tenha enraizado no inconsciente popular e nem questionamos, aceitamos o preconceito, em vez de tentarmos entender a triste história dos negros no Brasil. E até hoje prevalece a  lei do mais forte ou quem pode mais. E também nos conformamos que quem sempre vai parar na prisão no Brasil é quem não tem poder aquisitivo e vimos grandes ladrões e assassinos de colarinho branco saírem impunes.
   A gente se conforma de que políticos são sempre ruins e ladrões. E nos esquecemos que há tantos que lutam para fazer a diferença e que acreditam no Brasil. E a gente se conforma em generalizar tudo, sem questionar.
   A gente se conforma que se casar é um dever e quem foge a essa regra é visto como um sem rumo na vida. Como se todos fôssemos iguais e devêssemos sempre andar nos trilhos que nos sugerem. E há tantos casamentos de fachada e ainda insistimos em mantê-los para nos enquadrarmos às exigências.
   A gente se conforma com tantas outras coisas que esse texto poderia ter muitas páginas. Nós nos conformamos e quase nunca perguntamos o porquê, não queremos ver além de padrões que nos oferecem, afinal, é melhor usarmos as rédeas que a maioria tem, sem ao menos questionar, é mais fácil. E seguimos a lei do “sempre foi assim mesmo...”  E continuamos todos de rostos distintos, mas de mentes idênticas e apagadas.

Pedra Sutil

Facebook Twitter RSS