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Cadê nossa vacina??

 

Não consigo ser equilibrado, coerente e são, por mais que eu assista aos vídeos de gurus que trazem a felicidade e a boa energia em dois dias... Não dá para ficar de “boas” perante ao abate da população do meu país. Não consigo, ainda, entender o negacionismo até de pessoas que eu achava que fossem sensatas. Não dá! Não ando conseguindo. Um pouco de minha paz e felicidade está se esvaindo em cada óbito, queria não sentir isso. Queria me lixar como demonstra o chefe do executivo em suas falas com grandes colheradas de sociopatia. O que meu país se tornou? Não falo apenas sobre o vírus, mas com ele uma epidemia de gente que exalta a estupidez, a barbárie, a rejeição do óbvio... Estou tentando, mas está difícil, tenho a impressão que envelheci dez anos em dois. O que fazer? Buscar novos vídeos motivacionais? Tentar equilibrar a energia? Buscar a resposta nos astros? Ou aceitar que o abate é uma espécie de arrebatamento, como alguns fanáticos religiosos possam estar pensando, ou mesmo, a ira de um deus sobre a humanidade. Certo dia, entrei na live de um desses gurus, que deve ter nascido em Nárnia, e dizia que a culpa não era do governo, mas que estamos pagando pela derrubada de árvores da Amazônia. Óbvio que o desestabilizei ao vivo quando o questionei de sua fala insana e me retirei daquela conta do Instagram para nunca mais voltar. Na real, não quero respostas, querer essas respostas também é negacionismo. Quero vacina! Só isso! No mais, sigo tentando tirar água de pedra, luz de um buraco negro onde um capitão insano colocou meu país... Devolvam nossa dignidade! E nos mandem vacina!!!

Não se poupe

Quem sempre é poupado de sofrimentos ou desafios, dificilmente passará para a próxima fase no caminho da evolução pessoal...

QUE SEJA LEVE

 Que seja leve

Pois a vida anda pesada

Que seja leve

Pois o fardo está insuportável

Que seja leve

Pois o peso da energia atual enfraquece

Que seja leve

Pois mal enxergamos a luz no fim do túnel

Que seja leve

Por mais dura que a realidade esteja

Que seja leve

Ainda que haja pregos no caminho

Que seja leve

Ainda que a mente lhe confunda, às vezes

Que seja leve

Ainda que a incerteza lhe abrace

Que seja leve

Mesmo vivendo num momento de nadar contra a correnteza

Que seja leve

Mesmo com a falta da certeza

De um porvir

De um alento

De afago

Mesmo que a insegurança lhe puxe

Mesmo que veja os maus vencerem

Mesmo que a miopia da humanidade esteja desenganada

Mesmo que o calor humano lhe falte e se aproxime a neve

Tente

E que seja leve

Volta, Dilma!

    Volte, Dilma! E fale que a reforma trabalhista foi sua, que a reforma da previdência precisa ser aprovada. Volte! E fale que é preciso aumentar toda semana o preço do combustível. Diga, em seus discursos confusos, que o gás de cozinha vai aumentar mais uma vez; engane-nos, dizendo que não há inflação.       
    Volte, Dilma! E comente que você faz parte do grande acordo nacional! Chame ministros investigados e réus para compor seu governo. 
   Volte, Dilma! Diga que foi sua a ideia de congelar gastos com saúde e educação por vinte anos! Discurse que foi preciso entregar grande parte da Petrobrás aos estrangeiros... 
Volte, Dilma! Quem sabe assim tiraremos a bunda de nosso sofá e invadamos Brasília. Quem sabe, com sua volta, ficaremos indignados com tantas barbaridades. 
   Volte... Para que não acreditemos que fomos idiotas suficientes para aceitar que fomos manipulados a odiar um partido e não a corrupção. Volte, Dilma... E faça milhões de brasileiros acordarem de sua letargia, de seu comodismo. 
   Volte, Dilma!


SOTURNO

Descortina-se a lama, o caos do agora
Sofre choros calados a alma que implora
Por migalhas de compreensão
E o ser outrora humano se reflete selva

E a cega esperança se vai, escorre-se pelos dedos
Que trêmulos tentam gesticular um aceno de piedade
Mas a dor segura-os para baixo e se sente o frio do chão
Da solidão que aperta o fígado

Fixo no nada, os olhos cerram-se e se abrem
Na esperança de nunca mais verem a luz
E que a dor se afaste junto do ar que visita as narinas

E que o corte profundo no peito apague de vez o toque do miocárdio



Pedra Sutil

Reflexão...


Amnésia

Medo disfarçado minha mente tece
Esqueci meus gostos, do que me apetece
Esqueci de meu rosto, o pó apagou
Esqueci dos sonhos, o vento levou
Esqueci o que é elo, ligação
Vago sonâmbulo, sem direção
Falta-me caminho, os pés no chão

Esqueci de chorar, o tempo me privou
Esqueci de falar, a voz não saiu
Esqueci de sorrir
Esqueci de gritar, vontade faltou
Esqueci minhas roupas
Esqueci das pessoas
Amnésia infinita me convém agora

Esqueci aonde vou, perdi a hora... 



Pedra Sutil

Sem nome, sem nexo...

Atormenta-me a saudade daquilo que não conheço ainda
Prendo-me ao passado daquilo que não ocorreu
Choro a morte de quem nasceu
Lembro-me de pessoas que jamais conheci

Distintos sentimentos me visitam
Passeio perdido em meus devaneios
Ouço vozes mudas a gritarem por mim
Vivo o início do fim

Vivo a loucura que é mais sensata
Inato, sem noção, sem nação
País de víboras monetárias
Ladrões de terno, me interno

Exilado em meu próprio espaço
Um país sem laço, um lapso
Prefiro a loucura, o palhaço
Pinto-me
 Disfarço-me

Hoje tem marmelada?...


Pedra Sutil

Quadrilha


João se aliou a Joaquim
Que delatou Tereza que amava Raimundo, o investigado,
Que acusou Maria
Que derrubou a liminar de Lili...

João, por mais crimes que tenha, ainda está no poder
Tereza foi para novas eleições
Raimundo virou governador
Joaquim fechou as contas no exterior e virou herói
Lili se casou com J. Pinto Fernandes, que está preso, e que não tinha entrado na história...

Pedra Sutil

METALINGUAGEM

A folha em branco pálida
Escreve mais coisas que imagino
Colore sonhos desfeitos
Resgata linhas perdidas

A caneta fiel massageia a folha
Que se vê viva e frenética
Que se vê alma
Que se sorri os olhos

E vidrados versos
Vertem água
E a veemente chaga consolo encontra
E se cala o coração ora acelerado
E na boca fica o gosto do mel
E se vê o céu
Nas letras
Nas fantasias...



Pedra Sutil

Faca

Quando tudo parece faca
Corto tudo
Corto dores
Corto amores

Corte profundo e lento me dilaceram

Afiado no pensar
Faço faca o lembrar

Não controlo a foice, a espada:
Esfaqueado e só,
Procurando linha para me costurar

Pego a linha do trem...


Pedra Sutil

Utopia

Quero morar no campo,
numa casa afastada,
visitada por pássaros livres.
Quero o verde das árvores ao meu redor,
um riacho doce banhando minha alma,
o silêncio calando meus anseios.

Quero a luz em meu peito,
quero esquecer a multidão, de gente dizendo não.
Seres robóticos,
conectados à rede.

Quero uma rede para deitar,
andar descalço,
sem me preocupar.
Quero ver o sol se pôr,
sem me opor a nada.
Nadar em águas límpidas.
Correr entre as pastagens.

Quero das flores o cheiro,
ignorar o dinheiro e pessoas compradas.
Quero ver a paisagem pela janela,
esquecer a vida amarela,
passada.
Quero ouvir a passarada.

Deitar na sombra de uma árvore amiga,
esquecer da briga,
do conflito,
do barulho...

Quero esquecer a vida ansiosa,
de gente gananciosa.
Quero escrever versos, prosas e músicas.
Quero ser gente na essência,
voltar à inocência que os fatos roubaram.

Quero viver paz,
alegria.
Pode ser utopia,
mas hei de alcançar!



Para não dizer que não falei dos florais

     Jean Paulhan disse: “A vida é em geral alegre. O que nos torna injustos em relação a ela é que a alegria não é recordada. Ao contrário, a inquietude, essa, permanece.”
     Correria, agitação, ansiedade, síndrome da urgência, intolerância, finalizando: depressão. Tão comum nos depararmos com algum conhecido comentando que está passando por algo do gênero ou que conhece alguém assim.
     Vivemos na correria do dia a dia: excesso de trabalho, no meu caso, tenho dois e já tive três... Pois é, vida de professor... Esquecemo-nos de parar e ver para onde estamos indo. Estamos, muitas vezes, seguindo a fila e nem paramos para perguntar para onde ela está nos levando. Corremos, corremos. Mas para onde, José? Pergunto-me.
     A autocobrança vem nos abraçando, estamos numa competitividade com o tempo, com os compromissos. E nessa fase de seguir a fila, com excesso de preocupações e autocobranças, resolvi fazer uso de florais. Os famosos florais de Bach. Já fiz uso da alopatia que são os medicamentos convencionais e parei. Resolvi me render às flores.
     Verificando sobre os florais, fui recorrer rapidamente ao pai Google que me disse que  Edward Bach, médico inglês, nascido em Moseley, na Inglaterra, em 24 de setembro de 1886, portanto há 130 anos. Se focalizarmos nos conceitos e na filosofia que estão por detrás de suas descobertas, concluímos que ele foi uma pessoa muito a frente de seu tempo. Gostei do cara! Mas senti que há uma certa crendice em sua teoria. Mas que seja! Talvez crença e fé é que anda nos faltando. Fé na vida, nas pessoas, ou seja: esperança! Mas esperar por quem? A fila está andando...
     Analisando a biografia de Bach , aprendemos que além de extremamente intuitivo, Bach era estudioso, dedicado ao trabalho e à cura; médico alopata, sanitarista, homeopata ou simplesmente “herbalista”, como gostava de ser chamado depois da descoberta das essências florais.
     Os florais de Bach servem para por em ordem nossas emoções e evitar que essas desencadeiem doenças tanto emocional como física. Uma frase de Bach: "Os medicamentos devem atuar sobre as causas e não sobre os efeitos, corrigindo o desequilíbrio emocional no campo energético".
     Com toda a correria que aprendemos a ter, difícil é pararmos para nos dar conta que é hora de relaxar. Acostumamos com os espinhos, as preocupações, os medos, as competições, a síndrome da urgência que podemos classificar como excesso de proatividade. São tantas urgências que devemos sanar que adoecemos. Agarramo-nos aos espinhos diários e nos esquecemos das rosas.
     Há mais de um mês comecei a usar os tais florais de Bach e fico na expectativa de sua ação, e quem sabe assim, alguém diga: eu vejo flores em você! E que essas flores se espalhem e tenhamos um jardim mais colorido pela esperança.

     Nossa! Escrevendo aqui, perdi a hora! Cadê meu floral?

Conectados


Do vazio fiel se enche
Das sobras do afeto se afunda
De delicados pensamentos: amnésia!
Da visão de si o ego se agita
Numa sombra que assombra o reflexo
O nexo perdeu-se...

Vaidosos instintos afloram-se
a imagem de Narciso é evidente
Menos gente, mais robôs...
Roubaram o real
O ser se encerra e a serra corta laços
O amigo de lá é melhor que o do lado
E não se ouve mais o fado
O piano e a bailarina foram dispensados...
Vieram muralhas num clique...

Pedra Sutil


Pedra Sutil

Na dimensão das personalidades pulsando em minhas veias,
abro a janela da vida e sorrio aos opressores
Ofusco olhares impiedosos e vomito suaves canções...
 A pedra, outrora dura, torna-se confortável na memória: a pedra sutil!
 A pedra que se faz alicerce, que carrega a estrutura do que sou. 
A pedra-máquina e precisa. 
A pedra angular condensada à maciez da lã.

No afã desse doce raciocínio, sigo meu trajeto reto e seguro.
 Um pouco pedra, um pouco sutil. 
Conforme o peso inserido na balança de minhas concepções.


Eu, mesmo?

De súbito:
subo,
desço,
há elevadores em mim.
Elevo-me,
levo-me,
rapto-me.
Arrasto-me...

Asfalto quente,
pés doentes,
mas caminho,
rastejo,
resgato-me,
rasgo o verbo,
roo a unha,
a carne.

Quero sangue:
sou A positivo,
B negativo,
depende da lua,
do signo,
da senha,
do suor,
das companhias,
das buscas,
dos elos,
das letras,
dos pensamentos ora mórbidos
ora sórdidos
ora floridos
ora ressentidos
ora sossegados,
calados,
aflitos,
eufóricos...
eureca!
Eu mesmo:
eutanásia!


 Pedra Sutil

A demonização de Dilma


    Tentei não escrever sobre política nesse período, mas fui vencido pela caneta.

    Não sou do tipo de ser fã de ninguém. Primeiro, sei que as pessoas cometem erros, e se me fanatizo, irei me decepcionar um dia com esse alguém. Não sou fã de Dilma e nem de seu oponente político. Tenho meus ideais políticos, nesse sentido, o candidato que mais me representa é, ainda, o do atual governo.

   Dilma é pouco comunicativa, enquanto que o outro candidato tem explícita oratória. Um bom presidente, em meu ponto de vista, não precisa falar bem, mas saber administrar. Quando há debates, vem a mídia massacrando a candidata que além de pouco jeito aos holofotes tem um semblante sério e de poucas palavras.

    O que me espanta é que desde que o ex-presidente Lula assumiu a liderança desse país começou-se um processo de demonização de seu partido.

    Óbvio que a população não gostaria de ouvir falar em corrupção, mas ela ocorre, sim. E hoje é mais nítida e apurada, diferente de outras épocas. Por isso não era conveniente ter Lula como herói. Houve falhas em seu governo. Como há falhas nesse e como haverá nos próximos, óbvio!

    Em um pensamento dualista entre bem e mal, ideia ultrapassada e cafona, muitos desinformados creem que somente os bolsistas votam no PT, partido esse que foi demonizado pelas grandes mídias. Lembra-me muito o que a igreja fez com as mulheres liberais na idade média. Criou-se o arcaico pensamento de tornar maléfico o atual governo, promovido pela oposição política que quer voltar ao poder a qualquer custo. Daí a velha arma de demonizar, se é que existe esse verbo, que faço jus aqui. Perfeito ato num país pobre em questão do que é fé e religião, regido pelos atrasos de crenças jesuítas.

    Todos os avanços obtidos nesses anos são claros, não há como negar. FHC contribuiu, Lula contribuiu. Fiquemos nesse duelo pobre entre bem e mal onde não há tal lado. Há jogo de poder, de manipulação de mídia... E muitos sem informação saem gritando fora PT. As manifestações ocorridas foram para pedir mudanças. Ora, mudanças não ocorrem do dia para noite e um presidente não pode fazê-las sozinho, a não ser com um golpe de Estado que não é uma opção coerente. Daí a importância do discernimento do voto nos deputados e senadores. Sem falar que houve manifestações em âmbito municipal, exigindo melhorias que seria de âmbito federal ou estadual, ou seja, um grito sem saber a quem. Manifestação sem lógica, nesse caso.

    Demonizar Dilma é, de fato, a maneira mais efetiva de pobreza de espírito de um lado político e de uma mídia de interesses que vêm há anos tentando fazer a população vê-la e a seu partido de uma maneira negativa. Funciona onde crendices populares ainda imperam sobre o bom senso e o mínimo de orientação.


Silvio Titato

A cidadania começa em casa

Leandro Karnal diz: "não existe país com governo corrupto e população honesta". É com esta afirmação que inicio aqui a nossa prosa.
Muitas vezes, demonstramos não acreditar nos políticos aqui no Brasil, mas esquecemos que os políticos são brasileiros, portanto, se há sujeira na política, talvez seja por que nossa sociedade anda pecando nas pequenas demonstrações de cidadania. Notavelmente, exigimos nossos direitos e falhamos quanto as nossas obrigações mais simples.
Cidadão é aquele que pratica a cidadania. Esta é o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão está sujeito no seu relacionamento com a sociedade em que vive.
Nos pequenos casos, podemos demonstrar que infringimos em algumas de nossas obrigações, por exemplo: estacionamos em vagas de idosos ou deficientes, mesmo não pertencendo a esses grupos específicos.
Quando jogamos de nossos veículos nas ruas e rodovias: lata de cerveja, refrigerante, sacolas plásticas, sujando a cidade ou podendo ocasionar acidentes.
Quando depredamos placas de trânsito, prédios públicos, pichamos muros...
Quando fumamos em locais fechados, compartilhando nosso vício aos que não concordam com ele...
Quando não sabemos nossos limites, ouvindo som excessivamente alto em nossas casas, deixando nossos vizinhos sem condições de ouvirem a própria TV, estudarem...
Quando negligenciamos e não assumimos nossos papéis de pais e deixamos nossos filhos para o Estado tentar resolver a educação deles. E o pior, depois que os professores apontam os erros desses filhos, desconhecemos tais comportamentos, visto que mal conhecemos as crianças ou adolescentes que temos em casa.
Quando despejamos óleo de cozinha em ralos, podendo, com um litro de óleo, poluir cerca de 25 mil litros de água nos rios de nosso município.
Quando, no trânsito, ultrapassamos pela direita, dirigimos quase parados por estarmos ao celular...
Culpar os políticos é fácil! Esquecemo-nos que os políticos são brasileiros, esse povo que comete as pequenas faltas descritas. Os políticos brasileiros, portanto, são apenas reflexos de como vivemos, de como o jeitinho ainda predomina na nossa cultura. A política não muda se a sociedade não muda. Cidadania começa em casa, nas pequenas coisas...

Encerro esse nosso papo com um frase de Eticamicina 5mg: "Cidadania é um vírus benigno, pelo qual a sociedade brasileira não se deixa inocular!"

A gente se conforma

    Não deveria, mas a gente se acomoda com tantas coisas que o mundo e a sociedade nos ensinam. Há tanta ideologia nos impulsionando, e muitos de nós não questionamos, apenas aceitamos e seguimos a maré...
   A gente se conforma com uma única visão de religião. E nós nem tentamos buscar algo diferente, outras filosofias ou, pelo menos, apenas conhecer antes de julgar. 
   A gente se conforma com o noticiário da TV que só mostra desgraças, aceitando que ver gente morta e catástrofes é um divertido entretenimento, afinal, dá-se audiência com isso. E nós nos esquecemos do lado positivo que a vida pode nos oferecer. Apegamo-nos à ideia de catarse e pensamos merecer o sofrimento para pagar uma dívida com o mundo, com os céus... 
   A gente se conforma em ver homossexuais sendo espancados. E nós acreditamos que lhes é merecido por serem diferentes e aceitamos a ideia que sexualidade é opção.
   A gente se conforma de que um verdadeiro ídolo é um atleta qualquer, um maluco que cria gírias na TV ou na internet, um político sem ética que excita o ódio e cospe preconceitos. E nós nos esquecemos das grandes personalidades que revolucionaram o mundo com ensinamentos e descobertas.
    A gente se conforma em parecer sempre feliz nas redes sociais. Como se todos estivessem bem o tempo todo. A felicidade se tornou obrigatória. E vivemos o virtual júbilo, pregando sorrisos amarelos, quando que, na realidade, a vida nem sempre nos mostra os dentes. Passamos nosso efêmero percurso aqui ostentando a tal felicidade. Talvez para que os inimigos vivam mais para ver uma suposta glória, e caímos na mediocridade do beijinho no ombro, que é um sinal de que alguém deveria nos invejar porque estamos jubilosos e deveras dignos dessa inveja. É uma disputa para quem se mostra melhor, às vezes, somente na foto.
   A gente se conforma com a ideia de que os negros deveriam sempre estar nas classes inferiores. E nós nem questionamos que se a África fosse um continente rico, talvez nunca tivesse sua população escravizada, visto que, talvez, a escravidão e tudo que ocorreu com os negros tenha sido uma questão social e econômica, e nem tanto pela cor da pele, porém, este estigma tenha enraizado no inconsciente popular e nem questionamos, aceitamos o preconceito, em vez de tentarmos entender a triste história dos negros no Brasil. E até hoje prevalece a  lei do mais forte ou quem pode mais. E também nos conformamos que quem sempre vai parar na prisão no Brasil é quem não tem poder aquisitivo e vimos grandes ladrões e assassinos de colarinho branco saírem impunes.
   A gente se conforma de que políticos são sempre ruins e ladrões. E nos esquecemos que há tantos que lutam para fazer a diferença e que acreditam no Brasil. E a gente se conforma em generalizar tudo, sem questionar.
   A gente se conforma que se casar é um dever e quem foge a essa regra é visto como um sem rumo na vida. Como se todos fôssemos iguais e devêssemos sempre andar nos trilhos que nos sugerem. E há tantos casamentos de fachada e ainda insistimos em mantê-los para nos enquadrarmos às exigências.
   A gente se conforma com tantas outras coisas que esse texto poderia ter muitas páginas. Nós nos conformamos e quase nunca perguntamos o porquê, não queremos ver além de padrões que nos oferecem, afinal, é melhor usarmos as rédeas que a maioria tem, sem ao menos questionar, é mais fácil. E seguimos a lei do “sempre foi assim mesmo...”  E continuamos todos de rostos distintos, mas de mentes idênticas e apagadas.

Pedra Sutil

A pomba e o homem


    Nunca se pode concordar em rastejar, quando se tem ímpeto de voar. Hellen Kellen

   Um dias desses, fiquei a observar uma pomba que adentrou em um prédio quando o portão deste estava aberto. Nesse prédio, além do portão, há apenas janelas que ficam por volta de três metros do chão com vidros transparentes, algumas se abrem com o auxílio de uma espécie de cordinha, outras ficam fechadas sem esse auxílio.

   A pomba, ao entrar no prédio, foi atraída pela luz que as janelas trazem e se pôs em frente a uma que não tem como ser aberta.O pobre animal ficou assiduamente tentando transpor o vidro que naquela ocasião não se abria. Tentei abrir outras janelas que se abrem e espantar a pomba até elas para o pássaro sair, mas a ave insistia em sua tentativa equivocada e teimosa naquela mesma janela. Debatia-se, tentando alçar voo através do vidro. E ficou por horas ali, espiando a luz do dia, aguardando, um dia, quem sabe, transpor o vidro e voar novamente.

   Nessas minhas filosofias de boteco, fiquei imaginando em como nos parecemos com aquela pobre pomba.

   Há situações em que, muitas vezes, não conseguimos ver saída, mas insistimos em não mudar o foco. E tentamos atravessar barreiras intransponíveis, não enxergamos outras saídas, ou insistimos em não enxergar.

   Voltei a observar a pomba, ela ficou ali: parada, cabisbaixa, sem ver solução para seu problema e cheguei quase a me convencer que o fim dela seria aquele mesmo: morrer com fome e sede, sem solução, sem chances. Ela se acostumou a rastejar, enquanto, o que queria, era voar.

   Ainda bem que o cérebro humano é maior que o da pomba, mas inúmeras vezes agimos como o tal pássaro.

   Nossa letargia nos impede de ver janelas abertas, centramo-nos em uma apenas e insistimos em nos debater para tentar alcançar a saída, onde, muitas vezes, não há.

   Não podemos voar como a pomba, mas podemos andar, correr, mover muitas coisas. Martin Luther King Jr disse: Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito. Ficar parado em frente ao vidro, apenas observando o outro lado, no nosso caso, é questão de escolha.



Pedra Sutil

Palavreado

Póstuma pele pálida
Provoco pequenos pretextos
Pareço pássaro pisado

Pés pacatos passam
Piso pedra pontiaguda
Paro pensativo,
 pesado...

Penso pedra
Pulo portas
Pendo para primeira pétala
Peco pela próxima palavra

Pa-la-vre-a-do

Pedaços profundos, precários
Padeço por puro pensamento

Pen-sa-men-tos

Pa-la-vras

Pre-fe-rên-ci-as

Paro, piso, peco

Passo...



Pedra Sutil

Vou partir

Fiz minhas malas, vou partir,
Parte de mim carrego.
Levo a esperança,
Levo os afetos,
Um pouco de medo.
Levo a tristeza.
Levo também a alegria.
Levo memórias, mágoas...

Levo o coração, levo a solidão.
Levo o crescimento, experiências.
Levo a paciência.
Levo a leveza do ser.
Levo o espírito de liberdade.
Levo a euforia da idade,
A euforia da mudança.
Levo a fragilidade de criança.
Levo a nostalgia de adulto.
Levo tudo nesse impulso.
Levo eu:
      Livre,
               Leve... 




Voy a partir


Hice mis maletas, voy a partir. 
Parte de mí cargo.
Llevo una esperanza
Llevo los afectos,
Un poco de miedo.
Llevo la tristeza.
Llevo también la alegría.
memorias, pesares....

Llevo el corazón,
Llevo la soledad.
Llevo el crecimiento, experiencias.
Llevo la paciencia.
Llevo la sutileza del ser.
Llevo el espíritu de libertad
Llevo la euforia de la edad,
La euforia de la mudanza.
Llevo la fragilidad de niño.
Llevo la nostalgia de adulto.
todo en ese empuje.
Llevo yo:
    Libre, 
       Leve...



Pedra Sutil
Agradeço a Olga Klie pela versão em espanhol!

E além da pedra havia um caminho
Foi necessário movê-la...


Pedra Sutil

Longe

Uma voz oca soa nas ideias
o remédio outrora alívio
passa a ser mortífero
esmago folhas pelos jardins da estrada
quero a luz, mas me esquivo dela
tenho o preto e branco
e me esqueço da aquarela


Uma fé vaga tenta me beijar
apresso o passo e piso brasas
penso muito e tenho pouco
Rouco, tento me lembrar da voz que tive
dos sonhos incompletos
dos medos que me assombravam
e me apego a qualquer migalha de afeto
sem entranhas a me ninar
sou feto
feito de resto de esperança
de resto de vida
E sigo a estrada quente que sangra os pés
peso
penso
observo

A mão que se faz amiga oferece o tapa,
o golpe
Sem norte, caminho a esmo
Longe de mim mesmo...


Pedra Sutil

Ideologia! Eu quero uma pra viver?

               Assistindo ao programa “Café Filosófico” da TV Cultura um dia desses, estavam debatendo sobre a sociedade burguesa e afirmaram que vivemos esse modelo de sociedade aqui no Brasil. Nas discussões, comentavam que na sociedade burguesa a forma sobrepõe o sentido, ou seja, mesmo quando não  acreditamos em alguns padrões sociais, resolvemos segui-los para não confrontarmos o que uma sociedade julga como correto. Podemos imaginar algumas situações sobre o assunto quando acreditamos haver um único padrão de família, um único padrão religioso implantado, um padrão capitalista onde trabalhamos para promover o enriquecimento do outro, orientação sexual, posição da mulher na sociedade. E muitas vezes excluímos quem não segue tais parâmetros sociais de família, orientação sexual, religião etc.  Percebemos que o que julgam como sociedade burguesa cheira a hipocrisia. Ou fede, como cantava Cazuza.
                Paralelamente, ao estudarmos a ideologia, verificamos que acabamos aceitando todas essas influências, visto que ideologia é uma série de concepções que a classe dominante insere e julga como corretas. E me espanta saber que essas concepções ocorrem desde a época do Brasil Colônia. No século XVII, por exemplo,  ao ensinarem os dogmas do catolicismo aos escravos, esses era instruídos a rezarem o rosário com a ideia de que os mistérios intitulados “dolorosos”  que essa reza traz eram para representá-los, pois eram persuadidos a acreditar que sofriam para um bem maior e os mistérios “gloriosos” eram para os senhores desses negros que recebiam as dádivas, os bens aqui na Terra.
                E quantas vezes nos conformamos com algumas concepções? Consideramos o suor do rosto como exemplo de trabalhador. Pessoas que não suam passam a ser ociosas? Mulheres têm de ser submissas aos homens? Os homens precisam gostar de futebol no Brasil? Temos que nos matar de trabalhar para enriquecer a outrem? Manda quem paga mais? Temos que gostar de carnaval porque somos brasileiros? Precisamos ter uma única religião?
                Essas ideias embutidas em nossas mentes ou a teoria do “é assim mesmo “ que podemos chamar de ideologia. Por trás dela sempre há uma classe dominante ou um padrão dominante. Padrão esse que a sociedade burguesa segue ou finge seguir. Digo fingir pois muitos que não acreditam nesses ideais acabam os seguindo  para serem aceitos nesse modelo ideológico de sociedade, mesmo que por debaixo do pano, ajam de forma distinta aos comportamentos ostentados no meio social.
                Há quem diga que o mundo está perdido pelas séries de transformações no comportamento das pessoas. Mas o que esse termo “perdido” pode estar representando é que as pessoas estão abolindo essas concepções que a burguesia quer nos fazer engolir. O mundo, portanto, não está perdido. Está em constante movimento e aos poucos deixando de lado padrões ideológicos burgueses. Talvez hoje as pessoas estão sendo autênticas e deixando de colocar embaixo do tapete quem realmente são.

                Retomando mais uma vez Cazuza, fico na pergunta que umas de suas músicas sugere: “Ideologia! Eu quero uma pra viver”? A interrogação fica por minha conta para gerar exatamente essa ideia de reflexão...

Letras coloridas

Dê-me a caneta,
         deixe-me ser livre,
pensar sem crise
         e fugir do planeta...

Dê-me a caneta
              e veja os sonhos que pinto
e as cores que escrevo...


Pedra Sutil

É UMA QUESTÃO DE TEMPO

Mas o que é mesmo o tempo? Alguns filósofos o julgam como algo cíclico, que se repete de tempo em tempo. Outros, como alguns voltados ao pensamento cristão, julgam o tempo como linear, chegando portanto a um fim, como por exemplo o fim do mundo, como prega o apocalipse, seria o término do que julgamos o tempo. 
 A explicação do significado do tempo levou vários filósofos a elaborarem ideias a respeito dele. Kant (1724-1804), por exemplo, disse que o tempo, apesar de ser essencial como parte da nossa experiência, é destituído de realidade: "tempo não é algo objetivo. Não é uma substância, nem um acidente, nem uma relação, mas uma condição subjetiva, necessariamente devida à natureza da mente humana.''
Ora, ora... Se o tempo é destituído de realidade por que envelhecemos? Nada mais real são as marcas do envelhecimento, as transformações no corpo humano, observamos tal efeito também na natureza.
Foi necessário a contagem do que chamamos tempo. Demos nome a ele. Sessenta segundos chamamos de minuto, sessenta minutos de uma hora, vinte e quatro horas: o dia. Depois os meses, anos, décadas, séculos. Todos esses nomes são relacionados ao tempo. Ou a passagem dele. 
Cíclico ou linear, o caso é que ele passa, anda, corre. E não para!
Pegando como gancho ainda o que Kant disse que o  tempo é uma subjetividade da mente humana, podemos talvez tentar explicar algumas situações. Quantas vezes pensamos que algo surgiu em tempo errado? Ou quantas vezes através da expressão de que o tempo cura tudo talvez um dia aceitaríamos algumas decepções, mágoas, a morte de alguém querido? 
Dizem que o tempo é o melhor remédio. Mas sua passagem faz com que tomemos remédio. O fato é que ele passa, envelhecemos, terminamos ciclos, começamos outros e findamos o nosso tempo debaixo do sol.
Dizem também que tempo é dinheiro. Desde que inventaram o que chamamos hora, tudo passou a ser cronometrado. Atualmente, temos a impressão que mais do que nunca o tempo é dinheiro. E passamos cada vez mais nos dedicando ao trabalho e mais trabalho,  buscamos o dinheiro que o tempo ganho pode nos oferecer. Gastamos tempo no trabalho em busca do dinheiro para no fim não termos mais tempo e não mais dinheiro, pois linear ou em ciclo o nosso tempo termina um dia.

Russel disse que "O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido." Se compararmos tal afirmação de Russel à expressão “tempo é dinheiro”, podemos correr o risco de pensar que o descanso é uma maneira implícita e por que não dizer uma ideologia capitalista de empobrecermos. Mas pobre mesmo será o indivíduo que assistiu esse tal tempo passar e que não tenha deixado nada de útil nessa efêmera passagem que fazemos por aqui. E tudo passará, é uma questão de tempo...

Pedra Sutil





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