O tigre preguiçoso

                 O último livro que terminei de ler falava sobre as reflexões de Franz Kafka (1883-1924), um importante escritor do século XX, nascido em Praga, República Checa, suas obras foram conhecidas na língua alemã, daí a confusão de acharem que Kafka era alemão. Em uma das reflexões, Kafka diz: em épocas de paz não se costuma a chegar a lugar nenhum.

                Refletindo sobre essa afirmação de Kafka, podemos ver que a frase citada tem muito a declarar. Já percebeu que quando estamos em paz não queremos fazer nada? As turbulências na vida é que fazem salutares mudanças ocorrerem.
                Um certo tigre, acomodado como ele só, sempre esperava que seus companheiros trouxessem as suculentas caçadas para ele devorar. Era carne de veado, javali, zebra... O tigre vivia numa boa, como um verdadeiro parasita, aproveitando os diferentes cardápios que os amigos traziam. Até que os comparsas resolveram partir para outro lado da floresta e deixaram o folgado para trás.
                Após quase um dia todo dormindo, o tigre abandonado e faminto, começara a resmungar, pois sentia a falta dos amigos, ou seja, da comida que eles forneciam. A paz do tigre havia sido abalada. Resmungou, xingou, mas seu estômago falava mais alto e teve que se espreguiçar e tentar fazer algo.
                Nosso tigre, sempre acostumado a depender dos outros, teve que caçar seu alimento. Era despreparado para tal ato. Mas foi! Correu em busca de algo para se alimentar. Os veados desviam-se facilmente dele, as zebras, em grupo, quase que o mataram, até um coelho conseguiu fugir. Enfim percebeu que o tempo que ficou dependendo dos amigos fora um tempo perdido, pois não obtivera experiência para viver com suas próprias pernas. Deitado novamente e faminto, o tigre sentia-se em guerra interior e queria resmungar, mas ninguém o ouviria, e partiu novamente para a caça.
                Seus instintos, nesse momento de profunda guerra interior, voltaram. E em um só golpe, derrubou uma pobre zebra perdida e a devorou.
                O tigre, outrora preguiçoso, precisou sair de seu comodismo para ter algo. A paz, mencionada por Kafka, podemos interpretar como comodismo. Somente saindo e caçando é que teremos triunfo e nossa fome por algo melhor será sanada.


Pedra Sutil

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