Ideologia! Eu quero uma pra viver?

               Assistindo ao programa “Café Filosófico” da TV Cultura um dia desses, estavam debatendo sobre a sociedade burguesa e afirmaram que vivemos esse modelo de sociedade aqui no Brasil. Nas discussões, comentavam que na sociedade burguesa a forma sobrepõe o sentido, ou seja, mesmo quando não  acreditamos em alguns padrões sociais, resolvemos segui-los para não confrontarmos o que uma sociedade julga como correto. Podemos imaginar algumas situações sobre o assunto quando acreditamos haver um único padrão de família, um único padrão religioso implantado, um padrão capitalista onde trabalhamos para promover o enriquecimento do outro, orientação sexual, posição da mulher na sociedade. E muitas vezes excluímos quem não segue tais parâmetros sociais de família, orientação sexual, religião etc.  Percebemos que o que julgam como sociedade burguesa cheira a hipocrisia. Ou fede, como cantava Cazuza.
                Paralelamente, ao estudarmos a ideologia, verificamos que acabamos aceitando todas essas influências, visto que ideologia é uma série de concepções que a classe dominante insere e julga como corretas. E me espanta saber que essas concepções ocorrem desde a época do Brasil Colônia. No século XVII, por exemplo,  ao ensinarem os dogmas do catolicismo aos escravos, esses era instruídos a rezarem o rosário com a ideia de que os mistérios intitulados “dolorosos”  que essa reza traz eram para representá-los, pois eram persuadidos a acreditar que sofriam para um bem maior e os mistérios “gloriosos” eram para os senhores desses negros que recebiam as dádivas, os bens aqui na Terra.
                E quantas vezes nos conformamos com algumas concepções? Consideramos o suor do rosto como exemplo de trabalhador. Pessoas que não suam passam a ser ociosas? Mulheres têm de ser submissas aos homens? Os homens precisam gostar de futebol no Brasil? Temos que nos matar de trabalhar para enriquecer a outrem? Manda quem paga mais? Temos que gostar de carnaval porque somos brasileiros? Precisamos ter uma única religião?
                Essas ideias embutidas em nossas mentes ou a teoria do “é assim mesmo “ que podemos chamar de ideologia. Por trás dela sempre há uma classe dominante ou um padrão dominante. Padrão esse que a sociedade burguesa segue ou finge seguir. Digo fingir pois muitos que não acreditam nesses ideais acabam os seguindo  para serem aceitos nesse modelo ideológico de sociedade, mesmo que por debaixo do pano, ajam de forma distinta aos comportamentos ostentados no meio social.
                Há quem diga que o mundo está perdido pelas séries de transformações no comportamento das pessoas. Mas o que esse termo “perdido” pode estar representando é que as pessoas estão abolindo essas concepções que a burguesia quer nos fazer engolir. O mundo, portanto, não está perdido. Está em constante movimento e aos poucos deixando de lado padrões ideológicos burgueses. Talvez hoje as pessoas estão sendo autênticas e deixando de colocar embaixo do tapete quem realmente são.

                Retomando mais uma vez Cazuza, fico na pergunta que umas de suas músicas sugere: “Ideologia! Eu quero uma pra viver”? A interrogação fica por minha conta para gerar exatamente essa ideia de reflexão...

Facebook Twitter RSS