A pomba e o homem


    Nunca se pode concordar em rastejar, quando se tem ímpeto de voar. Hellen Kellen

   Um dias desses, fiquei a observar uma pomba que adentrou em um prédio quando o portão deste estava aberto. Nesse prédio, além do portão, há apenas janelas que ficam por volta de três metros do chão com vidros transparentes, algumas se abrem com o auxílio de uma espécie de cordinha, outras ficam fechadas sem esse auxílio.

   A pomba, ao entrar no prédio, foi atraída pela luz que as janelas trazem e se pôs em frente a uma que não tem como ser aberta.O pobre animal ficou assiduamente tentando transpor o vidro que naquela ocasião não se abria. Tentei abrir outras janelas que se abrem e espantar a pomba até elas para o pássaro sair, mas a ave insistia em sua tentativa equivocada e teimosa naquela mesma janela. Debatia-se, tentando alçar voo através do vidro. E ficou por horas ali, espiando a luz do dia, aguardando, um dia, quem sabe, transpor o vidro e voar novamente.

   Nessas minhas filosofias de boteco, fiquei imaginando em como nos parecemos com aquela pobre pomba.

   Há situações em que, muitas vezes, não conseguimos ver saída, mas insistimos em não mudar o foco. E tentamos atravessar barreiras intransponíveis, não enxergamos outras saídas, ou insistimos em não enxergar.

   Voltei a observar a pomba, ela ficou ali: parada, cabisbaixa, sem ver solução para seu problema e cheguei quase a me convencer que o fim dela seria aquele mesmo: morrer com fome e sede, sem solução, sem chances. Ela se acostumou a rastejar, enquanto, o que queria, era voar.

   Ainda bem que o cérebro humano é maior que o da pomba, mas inúmeras vezes agimos como o tal pássaro.

   Nossa letargia nos impede de ver janelas abertas, centramo-nos em uma apenas e insistimos em nos debater para tentar alcançar a saída, onde, muitas vezes, não há.

   Não podemos voar como a pomba, mas podemos andar, correr, mover muitas coisas. Martin Luther King Jr disse: Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito. Ficar parado em frente ao vidro, apenas observando o outro lado, no nosso caso, é questão de escolha.



Pedra Sutil

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