Palhaço nostálgico

E abrem as cortinas,
de trás delas sai um palhaço
com o riso amarelo.
Suas piadas são quase mortíferas.
Sangue e suor descem por sua face.

No camarim, a maquiagem é retirada,
toda a tinta branca e vermelha saem.
E o resto do riso desaparece,
há sinais de morte e fracasso.

A cortina se assemelha a entranhas de mãe
e toda a tinta fora ali colocada por seu público.
E toda a hipocrisia do palhaço termina em seu travesseiro,
deitado e só,
aguardando o reconhecimento,
mas ignoram sua presença.

No dia seguinte, pronto para um novo espetáculo
Especula a plateia que nunca o aplaude.
E novamente se fecha o rosto e desfaz o sorriso
Nenhuma palma
Só palmatória
Nenhum riso
Nenhum alento.

Segue o palhaço o roteiro que lhe sugerem
Ele segue à risca, mas os sapatos gigantes o atrapalham
A estrada que segue não lhe é apropriada
Mas ele quer fazer sorrir seu público e continua nela
Ele quer ver o riso
Se veste de uma fé falsa
Se pinta de novas cores
Piruetas e cambalhotas o derrubam
E nenhum sorriso
Nenhum dente se mostra a ele.

Em seu quarto
Sem tinta
sem público
sem nada
e nem ninguém
ele pensa...
Fecha a cortina
Derruba o palco.

Foi ali que ele achou a graça...

Pedra Sutil




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