O velho na varanda


O velho, na varanda, pitava.
Mandava para dentro a fumaça,
expelia memórias,
mágoas.

O velho pitava.
Olhar sofrido, lacrimejante,
falava de sua vida rastejante.

O velho, na varanda, passava
horas a fio a pitar.
Tragava a fumaça,
engolia a fome.

O velho faminto pitava
com esforço para manter
em suas mãos o cigarro de palha.
Mãos sujas, calejadas,
mãos amarelas.
Vida amarelada...

O velho sozinho pitava,
a todos que via acenava.
O rosto cadavérico balbuciava,
o rouco da voz não ajudava.
Era um olá de atenção
que tentava com as mão levantadas.
Mas ninguém o notara.

O velho pitava.
O velho pensava.
O velho chorava.
O velho passava...

Pedra Sutil

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