Pequeno conto do eu
Vestia-se de branco, olhos brandos e azuis, cabelos louros e cacheados. Olhar piedoso e pacifico. Amava sem receio e pouco esperava de retorno. Apreciava o crescimento do outro.
O outro vestia-se de preto, olhar penetrante e acusador. Cabelos e olhos negros, nunca admitia errar em seus julgamentos, nunca pedia desculpas. O mundo girava ao seu redor. Desconfiava de tudo e de todos. Queria ver o sofrimento alheio quando era contrariado.
Ambos se encontraram, se apaixonaram e partilhavam as suas experiências... Era quase impossível aquela união. Mas conseguiram se condensar numa só carne, numa só pele. Enfim houve paz.
Há dentro de nós duas vozes. Quando elas se entenderem haverá luz e harmonia. E sabedoria é perceber em qual momento usar cada uma dessas vozes. Mas o melhor ainda, é saber que a voz pacífica gera paz e plenitude, e por que não dizer, traz civilidade.
A voz do eu mesmo é feita de duas faces, de dois lados. Saber domar o lobo e não deixar o cordeiro se sobressair demais é um desafio de cada um.
A complexidade do ser humano surpreende.
Não neguemos nenhuma parte de nós mesmos, mas encontremos maneiras de levar cada voz. Não somos bons e nem maus, apenas humanos...