Dezesseis ou dezoito? Eis a questão

          Desde 1993 há uma PEC - Proposta de Emenda à Constituição protocolada, no caso a PEC 171 que visa a alteração do artigo 228 de forma que sejam considerados plenamente imputáveis - ou seja, podendo responder por seus atos na esfera penal - todos os cidadãos maiores de 16 anos. A PEC foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em 2009, e aguarda desde então a apreciação do Plenário da Casa.

Atualmente, em redes sociais na internet, muito se fala sobre tal tema. E em meio a tantos debates, observamos, recentemente, o que ocorreu com a dentista em São Bernardo do Campo-SP. Há grande indício de que fora um menor quem lhe ateou fogo. Resolvi pesquisar um pouco sobre esse tal adolescente.

Segundo o blog da Revista Abril, escrito por Reinaldo Azevedo, o adolescente meliante já tinha sido detido cinco vezes antes do caso da dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza . Por ser menor e por todos os resguardos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), acabou solto, chegando ao clímax de sua ação criminal: matou queimada uma trabalhadora que era arrimo de família e que com esforço se formara.

Pode ser que com a maioridade penal reduzida aos dezesseis anos aponte que nosso sistema é falho, pois em vez de educar para que os adolescentes não cheguem ao crime, apenas punirá. Pois bem: é falho mesmo! E os valores parecem invertidos em nossa sociedade. Temos a impressão de quem quer levar as coisas de forma correta, acaba sendo taxado de equivocado. Talvez esse adolescente do caso da dentista seja o herói de seus comparsas, o que fez justiça pelo fato dela ter apenas trinta reais na conta. Percebe a distorção dos fatos? Pode ser assim que eles pensem.

Podemos dizer que adolescentes desviados são vítimas do sistema e que não pediram para nascer em meio à criminalidade. E nos esquecemos dos que nasceram na mesma situação e que não cometem crimes, e também daqueles que pertencem a uma classe privilegiada, e mesmo assim, partem para a ilegalidade.

Claro que o meio em que nascemos interfere em nossa formação e que o convívio com a marginalidade influencia, porém, ao menos punir de forma severa os adolescentes, será, de certa forma, uma maneira de amenizar o que o Estado e uma sociedade ainda primária precisam muito aprender. Mas crimes não são apenas passíveis aos adolescentes de baixa renda; há muitos casos abrangendo menores de classe social elevada. Só esperamos, utopicamente, que a justiça se faça a todos na terrinha tupiniquim.

Enquanto não houver um sistema prisional estruturado e de recuperação teremos apenas a punição pela punição, sem resgatar aqueles que ainda têm jeito.

Se o sistema funcionasse, se houvesse incentivo sério em educação e cultura, talvez a maioridade penal pudesse, quem sabe, ser aos vinte anos. Mas pelo visto, será necessário assumirmos nossa incapacidade enquanto Estado e sociedade e passar a punir adolescentes de dezesseis anos que já podem votar e quem sabe possam ser punidos e caírem nas grades de nosso arcaico sistema prisional que não socializa ninguém, e pelo que podemos observar, logo teremos mais presídios do que escolas.




Pedra Sutil

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